Apesar da estrutura conflitante do relatório de Criação de Empregos Não Agrícolas (NFP), os dados divulgados permitem que o Federal Reserve considere um novo corte na taxa de juros em uma das próximas reuniões. No entanto, o principal indicador — a inflação (CPI) — será divulgado em 16 de dezembro. Isso explica a reação morna do mercado ao NFP, já que o relatório representa apenas a primeira peça do quebra-cabeça que definirá o cenário macroeconômico.
Segundo os dados, a taxa de desemprego nos EUA subiu para 4,6%, acima da expectativa de 4,5%. Trata-se do nível mais alto em quatro anos, observado pela última vez em outubro de 2021. Além disso, consolida-se uma tendência negativa, com o indicador avançando pelo quarto mês consecutivo.
O número de empregos no setor não agrícola aumentou em 64 mil, superando a projeção de +50 mil. Ainda assim, há duas ressalvas importantes. Primeiro, esse crescimento é insuficiente para estabilizar a taxa de desemprego, evidenciando que a demanda por trabalho segue abaixo da oferta. Segundo, os dados dos meses anteriores foram revisados para baixo em um total de 33 mil postos (agosto e setembro). Em outubro, o mercado de trabalho registrou uma perda expressiva de 105 mil vagas, em grande parte devido a cortes no emprego federal, além de sinais de enfraquecimento no segmento de pequenas empresas.
Os números salariais também decepcionaram. Os salários horários avançaram apenas 0,1% na comparação mensal, bem abaixo da expectativa de +0,3%, marcando o ritmo mais fraco desde julho de 2024. Na base anual, o crescimento desacelerou para 3,5%, o menor patamar desde maio de 2021.
Em síntese, embora alguns componentes do NFP tenham permanecido em território positivo, o tom geral do relatório reflete a continuidade da fragilidade do mercado de trabalho americano, caracterizada por criação modesta de empregos, desaceleração salarial e aumento do desemprego.
A decepção dos compradores do dólar não se limitou ao NFP. As vendas no varejo dos EUA também frustraram as expectativas: em outubro, o indicador ficou estável (0,0%), enquanto o consenso apontava para uma alta marginal de 0,1%. O resultado sugere enfraquecimento da demanda do consumidor em meio à incerteza econômica e ao controle de gastos.
O índice de atividade industrial também veio abaixo do esperado. Embora tenha permanecido em zona de expansão em dezembro, recuou para 51,8 (ante previsão de 52,0), acumulando dois meses consecutivos de queda. O relatório indica retração nos novos pedidos, desaceleração da produção e aumento dos estoques, sinalizando acúmulo em um ambiente de demanda mais fraca.
O PMI de serviços igualmente apresentou desaceleração, caindo para 52,9 em dezembro, frente a 54,1 em novembro, ainda que permaneça acima da linha de expansão. O movimento reforça uma trajetória descendente pelo segundo mês consecutivo.
Assim, os membros de perfil mais dovish do Fed ganharam argumentos adicionais: mercado de trabalho enfraquecido, vendas no varejo fracas e desaceleração tanto na manufatura quanto nos serviços. Resta apenas a peça final do quebra-cabeça — a inflação. Caso o CPI surpreenda negativamente, o dólar poderá sofrer nova rodada de pressão, permitindo que o par EUR/USD se mantenha na região dos 1,18.
As projeções indicam que o CPI de outubro pode acelerar para 3,1% em termos anuais. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, também é esperado em 3,1%, após leve desaceleração para 3,0% em setembro.
Se os números confirmarem ou superarem as estimativas, as expectativas de cortes de juros em janeiro ou março tendem a aumentar, o que pode levar o EUR/USD de volta à região dos 1,16. Por outro lado, caso a inflação desacelere contra o consenso, o quadro ficará completo contra o dólar. Nesse cenário, os compradores poderão se firmar acima da zona dos 1,18, rompendo a resistência em 1,1820 — correspondente à linha superior das Bandas de Bollinger no gráfico semanal. Diante desse contexto, a estratégia mais prudente segue sendo buscar posições de compras apenas em recuos, com alvos em torno de 1,1790–1,1800.
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